sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A VISÃO DE SIGMUND FREUD SOBRE A HOMOSSEXUALIDADE E BISSEXUALIDADE

Deve-se saber que a causa da homossexualidade é a mesma da heterossexualidade e da bissexualidade: a escolha inconsciente do objeto do desejo. Escolha produzida na trama das relações sociais, sempre bem circunstanciada no âmbito de um sistema de sociedade particular e suas instituições e convenções – o que chamamos de cultura. Nessa esfera, nenhuma escolha é mais natural ou normal do que outra, melhor, pior, superior, inferior. Desde Freud e sua teoria do inconsciente, seguido por Lacan, sabemos, se há alguma razão para se falar de causa, que se aceite que todo desejo é causado e, mais ainda, que todo desejo é uma causa: a causa do sujeito do desejo, isto é, aquilo pelo que cada um se empenha, embora sem saber. E essa é condição a que ninguém e nenhuma escolha escapam. No tocante ao desejo, não há causas mais legítimas que outras. Na política das escolhas do amor e do sexo, todas as causas são igualmente fundadas (causadas) no desejo – e, pois, como desejo, legitimamente existente como um direito, tratando-se do que não inflija sofrimento a ninguém, não constitua violência sobre o outro, agressão à dignidade humana. Não se pode acusar a homossexualidade de nenhuma dessas coisas. Bem ao contrário, pela extensão do preconceito, são os homossexuais que têm sido objeto de discriminações e violências que constituem inquestionavelmente atentados aos direitos humanos e à democracia.


A importância da teorização de Freud está em desnaturalizar a sexualidade humana, demonstrando que todas as escolhas sexuais, como produções de desejo, seguem igualmente determinações inconscientes, não havendo o que se possa chamar de sexualidade normal, natural. Freud consegue isso demonstrando – a partir de material clínico observado – que a sexualidade humana, buscando o prazer, afasta-se do modelo da vida sexual animal, conforme uma economia que, atuando em seu benefício, “perverte” (altera, imprime novo modo de ser) a função da procriação animal. Freud, com a sua teoria da “perversão” – termo que se presta a muitas confusões e manipulado pelo preconceito, mas cujo sentido, no autor, é subversivo –, desenvolve a compreensão crítica segundo a qual não se pode falar de “conformidade à natureza” como critério da “normalidade” quando se trata da sexualidade humana, pois, em si mesma, a sexualidade humana é “perversa”, isto é, alterante, modificadora, transformadora, realizadora de mudanças relativamente ao modelo que predomina na natureza animal.

Ensina-nos Freud, sendo a pulsão sexual humana orientada pela diversidade e parcialidade, a sexualidade dos seres humanos é múltipla, variegada, desordenada, caótica. Nesse sentido, a sexualidade entre os seres humanos é simplesmente contrária à natureza reprodutiva do sexo animal, não havendo razão para se falar de natural/normal e patológico/anormal em matéria de sexo no reino humano. Será a cultura – e seu trabalho de sujeição à ideologia (o que Freud chamava de os Ideais: a tradição, a religião, a moral) – que procurará, domesticando as pulsões, enquadrar os indivíduos. Com a teoria da “perversão”, Freud subverte o conceito de normalidade sexual e desautoriza o preconceito que estigmatiza como anormal/antinatural as formas da sexualidade como a que se expressa na homossexualidade – ainda que muitos psicólogos, psiquiatras e psicanalistas não vejam assim e todo um moralismo social e jurídico teime em afirmar o contrário.